domingo, 19 de fevereiro de 2012

Desabafo...

Desabafo somente por uma noite... apenas por uma noite.

Não quero luxo, nem lixo

meu sonho é ser imortal, meu amor!

Não quero luxo, nem lixo

quero saúde pra gozar no final...”

Rita Lee



Estou muito cansado. De tudo e de todos. De falar e não ser visto, de olhar e não ser ouvido. Porque ajo mais através de gestos, e todos eles me dizem quê. E reajo através dos versos, na defesa de não me permitir a loucura. Não quero ser contaminado com a descrença, não quero me crer como um contaminado que todos evitam. Mas então o que fazer? Quero acreditar num amanhã, quero crer nos homens, quero ter esperanças. Mas insistem em dizer que não há futuro, que nada é belo, que não alimente esperanças como se alimenta peixes com pedras. Se insisto em dizer que já não posso calar a voz do que sinto, do que sou, do que faço; simplesmente me ignoram. Por enquanto... Porque se insistir muito, podem me prender, podem me machucar, pelo simples ato de ser diferente; nunca superior. De enxergar além.

Estou muito sufocado. Por tudo e por todos. De quem mais quero e não vê o jardim; só espinhos; do jardim que vejo e não quer que eu habite,; só transite. Ou diz por outras palavras. Porque o Amor é o que é, e basta. Não necessita de racionalizações, nem de medidas e tampouco de parâmetros. Sofremos porque queremos contextualizá-lo, queremos limitá-lo as coisas mundanas, queremos que seja produto de consumo e descartável. Tudo é demasiado rápido; o avião é rápido, o dia é rápido, o cometa é rápido, o amor é rápido. Temos medo da durabilidade. Porque ela acarreta consciência, responsabilidades com nós mesmos. E nisso somos covardes. Recusamos a nós e castigamos o outro, porque assim nos sentimos melhores. Dizemos coisas que machucam, mesmo dizendo que amamos. Agora já é tarde e eu simplesmente me permito a não querer entender isso; não querer entender os homens. Quero apenas aceitá-los como são, sem alegria ou tristeza. Sobretudo sem dor... mas ainda sei que não, e por isso sofro assim.

Estou muito saturado. Das coisas e dos percalços. Ainda outra noite disse que precisava escrever para fugir da loucura. Descobri que não posso. Não devo fugir da loucura. Porque ela é parte de mim, e nela me insiro para ser um todo. Perguntaram se o que me doía eram os olhos. Olho os homens e só o que vejo é o desamor, máscaras de Viena e relógios caros. Então respondo que o que me doí – a despeito de – são as esperas, a falta das palavras e às vezes quem me entenda. Porque devemos ser práticos e ignorar tudo o que resta. Devemos ter os pés no chão e não ousarmos voar. Voar é com os pássaros, e se alguém começar a voar tudo estará perdido, saberás ser abatido a tiros como pato. O homem perdeu a capacidade de se comover com coisas simples, porque não o comovem levezas. Apenas se valoriza o que é pesado, o que nos consome e por nós é consumido: a solidão, a dor, a poluição, a loucura, o asfalto engolindo o verde e esta coisa suja e perigosa a quem chamam de poetas, quando querem dizer os doidos varridos, os alienados.

Estou muito doente. Por coisas e pelos percalços. Doente da alma, doente da boca, doente do coração. Da alma que sufoca o amor, da boca que desprende poemas insanos, do coração que sangra sem que ninguém veja. Não que este esteja oculto, que há muito rasguei meu peito para que o pulsar não fosse oprimido. Mas porque é feio um peito aberto; um coração batendo e gritando enquanto jorra causa asco. Todos estão muito preocupados olhando o próprio umbigo, então não sobra visão para o nada mais, principalmente as coisas ditas feias. Somos egoístas nos nossos próprios problemas, somos sozinhos porque queremos. Refutamos ajuda, ou não temos há quem pedir porque não percebemos o outro. Curioso é que a gente crê que ser feliz é exatamente o mesmo que ser triste, que amar é sempre o mesmo que machucar, que olhar no espelho d'alma é o mesmo que fecharmos os olhos para o espelho de sorrisos que teima em sorrir dizendo: brinco, mas falo sério!

E mesmo cansado, mesmo sufocado, mesmo saturado, mesmo doente ainda quero crer. Porque onde só se vê obstáculos vejo degraus; onde só se vê problemas, solução. Que sejas então um conjunto de sereias e algas azuis, estrelas marinhas e medusas colossais, que sejas um imenso e desmedido oceano, que sejas vivências e querências, que sejas sonhos e realidade, mas que sejas sobremaneira Uma dentre tantas outras. A única. Por ti aguardo paciente; inteira; na certeza calma das casas dos relógios que inexoravelmente veem os ponteiros avançarem como um rio que corre para o mar. Será quando deixaremos de querer estabelecer limites e freios para o amor e menos doídos nos perceberemos. É quando seremos felizes...



(R. Moran)
(da série: Coisas a dizer: para alguém que está por vir...)

* todos os direitos reservados ©

5 comentários:

  1. Quantos sentimentos 'intercalados' em ti.
    Vc sumiu...um beijo.

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  2. Ainda bem que este desabafo foi "apenas por uma única noite".
    Beijo

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  3. Por mais que estejas cansado, no final, VC e pura fé: ainda crê,

    Que seja essa fé, aquela que te impulsione, para vencer esses percalços,


    Bjkas

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  4. Uma noite significativa e importante.
    Expressar-se abre espaço para novas possibilidades!
    Beijos.

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  5. Moran, a melancolia do seu texto reflete o cansaço da minha alma. Encontrei-me em cada linha, palavra ou imagem. ( veja o meu blog...)
    Somos seres "ímpares" num mundo de " pares". Mas que nossos voos não nos impeçam de acreditar que ainda existe um horizonte... E que a dualidade dos sonhadores não apague a pluralidade de quem ama.

    Beijo grande

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