Reflexões
do tempo I
Existem tantas coisas escritas na alma que não cabem em mim... e por vezes transbordam em letras vermelhas no branco do papel. São vertidas no silêncio da noite, na solidão da calma e no escondido das horas. Nascem sem pedir licença, abruptas, e chocam por vezes pela crueza com que se mostram. Assustado pelo reflexo interior de mim mesmo, cubro o espelho e me resguardo. Aos poucos porém, um crescente incômodo se faz presente. Do incômodo passa-se a dor, até que não é possível mais ignorar aquilo que grita e necessita sair dos muros. Aos murros brota das fendas do pano esgarçado pelo tempo, e convertido em símbolos renasce para com suave alívio transmutar o que era aflição. Assim posto, posto nesta série de reminiscências de um passado que insiste entre fazer e diluir,o cunho das marcas e cicatrizes que vão n'alma de um louco e apaixonado pela vida poeta...
Nada e Tudo
Já lhe foi dada a esperança, mas a mim, sim!
– muita fúria, calúnia, insensata descrença.
No vento frio da lembrança que sopra e não retorna
desfaz-se como pétalas mortas de existência
teu rosto que se descolore e pálido perde a forma!
Já lhe foi dada a crença, mas a mim, basta!
– Do gosto amargo dos venenos humanos
à mais pura taça a verter a dor que entornas.
Por detrás de acusações tortas, fechas a porta
para a paixão que se vai... e triste não volta!
Perdidas as horas pelas casas do relógio,
se longe vais, oh madrugada, porque tardas o dia?
Os açoites que acompanham teus passos que partem
não escondem as sombras que lhe fazem companhia
e cobrindo a luz de teus olhos, teu brilho esmaecem.
Tudo leva o roldão do tempo, tristes lábios que calam
sussurros em campos longos e vagos que desaparecem
Longe, longe, ocultas em desvão solitário da alma
antigas lágrimas guardadas escorrem e depois passam
como flores que o inverno apaga e depois esquece.
E em nova noite que nasce e nada é insensato
do brilho da Lua ao crer em sonhos que crescem
meus sentidos de calma urgência vão a me dizer:
- que Nada é o que ficou para trás,
- que Tudo é o que a frente me compesce.
Maio/2012
(R. Moran)
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Adorei seu texto :)
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