domingo, 18 de dezembro de 2011

Uma parábola sobre...



Quando homens são feitos



Um homem muito rico, estando a beira da morte, chamou seus três filhos e falou:

- Tornei-os dotados de muita riqueza. A minha fortuna é grande e bastará a todos. Com meu trabalho honesto, criei um império que viverá por gerações. Mas para isso é preciso sabedoria. O dinheiro tem uma energia que precisa ser bem trabalhada. Não é pecado ter dinheiro, mas não se necessita amá-lo.

- Então basta que o aprouvemos como se quiser, sem adorá-lo? - perguntou o filho mais novo.

- Não – respondeu o velho pai – é preciso que o usemos com inteligência e ampliemos seu poder de transformação.

- Pois eu não amo o dinheiro, apenas o que ele pode comprar. - Disse o filho do meio.

- Pois a mim o dinheiro é sacro, e como tal deve ser respeitado e reverenciado. - Disse o mais velho.

- Nem tanto a nós, nem tanto ao vosso reino – admoestou o velho – Cada um tem um ponto de vista diferente e nem por isso menos verdadeiro. Valorizar o que o dinheiro proporciona, com a gratidão de quem se sabe merecedor, é mérito e conta de cada indivíduo. E tratá-lo com a devida reverência de quem sabe que ele nos foi dado por empréstimo como tudo o mais que há na Terra, é vital para sua boa aplicabilidade. Cuidar dele com zelo e desprendimento é para poucos.

- Pois fique tranquilo meu pai – disse o do meio – seu dinheiro estará em boas mãos. Usaremos teu exemplo para perpetuarmos teu trabalho.

- Que assim seja, meu filho. Mas penso que não terei formas de constatar isto quando aqui não mais estiveres. Certo de que a capacidade do ser humano em ser perpetuado só é mensurável após sua morte, uma vez que tenha partido não poderei no entanto mudar o passado, não terei poderes para interferir no presente e muito menos adiantar o futuro. Resta-me apenas deixar uma mensagem final que possa guiá-los.

- Mostra-se amargo meu pai. - falou com voz tensa o mais velho dos filhos – Por acaso acha que não somos competentes?

- Certamente que ainda não o são – falou o pai com candura, observando a reação na face de cada um – ou não precisaríamos estar aqui tendo esta conversa. Preocupa-me que o caminho do dinheiro desvirtue o que cada um tem de melhor em si, em detrimento do consumismo exagerado, da ostentação desnecessária ou da busca incessante pelo prazer mundano imposto pela sociedade e pela mídia.

- Então o que devemos fazer? Como nos prepararmos? – indagou o mais novo – Por acaso não nos ensinastes tudo que precisávamos?

- Devem ter em mente que o dinheiro é um meio, não um fim. E a preparação acontece no exercício diário da vida, onde cada um encontra seu caminho a despeito do que lhe tenha sido ensinado. Mas penso que existe uma maneira de ajudá-los nesta hora derradeira. Preparei um último teste, no qual acredito que apenas um será o escolhido para assumir este império. Como disse, o uso do dinheiro requer desprendimento e sabedoria para empregá-lo, o que é difícil – esclareceu o pai – Assim peço uma coisa simples que lhes ensinará o desapego ao dinheiro, bem como a forma inteligente de se dispor do mesmo. Quero que cada um, no dia do meu enterro, deposite 100.000 mil dólares em meu caixão. Apenas isso bastará como última lição. Aquele, ou aqueles que passarem pelo teste, assumirão integralmente as empresas, e aos outros caberá uma função no conselho da presidência, onde terão a oportunidade de aprenderem mais, para que no amanhã estejam prontos para trilharem seus próprios rumos com sabedoria.

Sem dar oportunidade para réplicas, o homem encerrou o assunto. E dali a dois dias de fato faleceu. No dia do enterro; já próximo da hora; o filho mais velho aproximou-se do caixão com um envelope contendo o dinheiro. Com relutância, depositou o mesmo, e lamentando disse:

- Sei que queres nos mostrar como o dinheiro não tem importância. Mas o reverencio e não vejo sentido no que fazes em desperdiçar tal valor. Mas acato tua vontade meu pai, sabendo que de onde saiu este há muito mais e saberemos usá-lo com sabedoria. - e após assim dizer, se afastou.

O filho do meio aproximou-se então com um maço de notas na mão e ficou olhando o pai deitado no caixão. Depois simplesmente jogou o dinheiro dentro e disse:

- Que desperdício... poderia comprar um carro novo para mim e assim ser feliz como o que o dinheiro pode proporcionar. Mas seja feita tua vontade, o importante é que o teste está cumprido. - e dando as costas, se afastou.

O mais novo dos filhos aproximou-se do caixão por sua vez e não trazia nada nas mãos. Depois do que pareceu uma prece silenciosa, ele acercou-se do ataúde e começou a recolher o envelope e as notas soltas enquanto dizia:

- Sinto muito, pai, mas para onde tu vais não serás necessário este dinheiro. Por via das dúvidas, deixarei um cheque no valor de 300.000 mil dólares no bolso do seu paletó. Se lá houver dinheiro, haverão bancos onde possa descontar este valor.

Após recolher todo o dinheiro, zelosamente tirou um cheque do bolso e o depositou junto ao velho pai.

Os outros irmãos olharam indignados tal atitude mas se contiveram em falar alguma coisa, visto que várias pessoas acompanhavam o inusitado da cena. Mas ambos pensavam em maneiras diferentes de reaverem seu dinheiro e punir o irmão espertinho.

Então, o advogado e testamenteiro do falecido pai chegou próximo do jovem e perguntou o que ele pensava em fazer com a soma recolhida.

- Este dinheiro mais os 100.000 dólares que tenho guardados serão importantes para modernizarmos uma de nossas fábricas, o que irá gerar mais lucros mas também mais empregos. Porém uma parte ainda irá para uma instituição que cuida de crianças doentes e que não tem recursos para receberem um tratamento digno – esclareceu o filho.

- Pois bem, provas assim de onde veio tua estirpe. O velho certamente está orgulhoso de ti, onde estiver. Tivestes sabedoria para perceber o absurdo de se enterrar o dinheiro que iria apenas apodrecer debaixo da terra, não tendo nenhuma utilidade prática. E por que entendestes bem o que é desprendimento; procurando usar o dinheiro não em usufruto próprio; mas no crescimento da empresa e na geração de renda para outras famílias. Bem como o altruísmo de se saber empregar parte dele na melhoria da sociedade.

E assim falando, instituiu o filho mais novo na presidência das empresas.

(R. Moran)


*esta parábola nasceu de uma pertinente anedota contada pelo meu grande amigo e irmão Chico, enquanto filosofávamos sobre o dinheiro e sua empregabilidade correta. Tive um insight e invertendo o sentido da anedota, transformei-a em algo que fosse passível de reflexão sobre os rumos que nossa sociedade consumista está tomando.Da insatisfação perene que todos tem, do vazio coletivo. A este propósito, cabe ressaltar que desta longa conversa surgiu outros dois textos ainda não acabados e que no tempo certo serão publicados. E por isso registro aqui meu muito obrigado a este que tem sido um efetivo co-criador, me passando tua vasta experiência de vida calcada na impecabilidade do caminhar. Dedico então está parábola a este que é antes de tudo um Guerreiro...

* todos os direitos reservados ©




7 comentários:

  1. O valor do dinheiro confunde as pessoas nas coisas realmente importantes na vida né?
    Mesmo que seja o dinheiro material e afetos e relações não,ainda assim ...as pessoas se atropelam,ficam cegas e surdas.Que bom seria se a história sempre se desse da forma narrada por ti.
    Um beijo.

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  2. Inverteste a anedota e ganhamos nós uma bela e tão pertinente, apropriada reflexão!!!

    Muito linda!


    Aproveito pra agradecer o carinho e desejar um Natal lindo, daqueles que nascem no coração e não nos shoppings... Esses é o verdadeiro,né?

    abração,chica

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  3. Que palavras bem reflexivas!
    Muito bem escritas!
    Um abraço
    Juliana

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  4. Belíssima reflexão, Moran!
    Mais do que nunca o consumismo se apodera de nossa sociedade insana e moldada pela aparência.
    Acho que as pessoas ainda precisam amar as pessoas e usar as coisas, e não o inverso.
    Lindo texto!
    Um beijo,
    Gil

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  5. Nem tudo é tão simples como parece. O prisma e a visão ampla é que determinam o sucesso da escolha do caminho.

    Ótimo texto, um bom convite à reflexão.

    Um beijo, moço.

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  6. Moran,uma parábola com grande ensinamento!Gostei muito!Bjs e feliz natal a vc e sua familia!

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  7. Olá,Moran!

    Puxa...calou fundo na alma,a beleza elevada desta parábola.E a inspiração lhe veio por uma anedota?!!Muito me impressiona...Mais uma prova de que quando queremos aprender, a evoluir, tudo serve para nos ensinar!Que assim seja sempre.
    Que um dia todos saibam fazer bom uso do dinheiro...tereremos um mundo com certeza,mais justo.Obrigada!

    Beijos!!!
    Deixo votos de um Feliz Natal, repleto de amor,paz e saúde!

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Para mí, solo recorrer los caminõs que tienén corazón...