“A
Bruxa e o Lustre”
(Uma viagem incidental)
A Bruxa sobrevoou lentamente o Lustre. Veio assim,
seguindo o canto do vento, passando por janelas abertas de par em
par, por entre diáfanas cortinas, voando em espiral até tocar de
leve suas faces aquecidas.
O primeiro contato trouxe o calor que a filha da
natureza reconheceu como sendo uma das necessidades básicas do ser
vivente: abrigo, alimento, água e primevo fogo.
Ao se distanciar um pouco, a Bruxa observou os detalhes
do Lustre. Ele era assim
Pendia de um fino fio de aço cristal do teto carmim
aveludado. Onde o contato do fio se dava com a base invertida do
Lustre, haviam miríades de diamantes o circundando. Descendo ao
redor do fio suspensor, braços translúcidos carregados de cristais
como pencas de uvas sirah. Com transparência e lapidação precisa,
os cristais permitiam uma profusa reflexão dos feixes de luz,
proporcionando luminosidade, brilho e acima de tudo encantamento. Os
feixes de luz espalhados pelos braços dos lustre clareavam os
pendentes que o suspendiam, irradiando luz em suaves ondas que se
espalhavam por toda a sala.
A Bruxa deu meia-volta no ar e notou que da base pendia
um outro fio de aço cristal, que ia dar numa pirâmide invertida de
faces translúcidas de alabastro, onde em seu interior ardia um
coração incandescente.
Se encontrava numa sala que bem podia ser do sec. XVI
ou XXI. Mas naquele momento, o que importava era que a bruxa tinha
calor... e ele era bom.
A Bruxa tocou de novo a face invertida da pirâmide
tentando ficar um pouco mais, porém o calor doeu e ela ergueu voo de
novo sobre a sala.. Distanciando um pouco mais, a Bruxa percebeu que
por mais que machucasse, a luz exercia um fascínio do qual não
podia se livrar.
Então
aproximou-se uma vez mais e extasiada, percebeu que o amor estava
além de limites. – O
que era aquele calor a deter uma chama que nem o vento e o tempo hão
de apagar?
E naquele ultimo lampejo do que é denominado princípio
inteligente, a Bruxa sobrevoou pela última vez a sala e se
precipitou no interior da pirâmide, onde o coração incandescente a
esperava.
De manhã, ao abrir a porta da sala, o alquimista se
deparou com o corpo estorricado da bruxa no chão. E ao olhar o
lustre, ele descobriu que nem onde a força e a sabedoria mundana hão
de penetrar, a verdadeira essência do ser vivente e sua consequente
“pedra filosofal” estava em ser feliz, ainda que fosse por um
fugaz momento: ouro, vida, amor ou primeva luz.
E pensando nisso ele chorou, e largando seus livros –
agora inúteis – saiu a contar pelo mundo o triste e belo amor de
uma Bruxa por um Lustre.
(R. Moran)
(Obrigado Renato Russo, pela música de fundo.
Obrigado aos amigos incidentais deste ensaio.)
(da série: Coisas a dizer...)
(da série: Coisas a dizer...)
01/01/1990 - “Na era de Aquário”
Apesar
de sofrer intervenções atuais, penso que a data de conclusão
merecia continuar perdida no tempo, naquela madrugada de réveillon
onde subitamente me vi chorando sem saber, e pegando a caneta,
escrevi em poucos minutos a estória da Bruxa que entrou pela janela
quando estava “fora de mim”, e morrendo na minha frente, me
ensinou uma lição. Que quando após no novo século, me vi
subitamente chorando novamente, soube que alguém ainda estava por
vir...
* todos os direitos reservados ©
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Lindo texto, me emocionou, me fez refletir sobre muitas coisas... uma boa semana pra vc tambem! Bjos!
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