Dos
embates do homem
O que significa esse conflito dentro da natureza
humana? Por que o homem se rivaliza consigo mesmo? Com seu
semelhante? O homem negando sua condição maior, destruindo,
desacreditando, ceifando vidas? O embate entre o bem e o mal. O claro
e o escuro. O dia e a noite. As dualidades em caótica mistura.
No mundo, o homem por si só é nada. Não pode e não
deve ser uma ilha. Por que então insistimos nesta insensatez que nos
alija de outro Ser de forma duradoura? Nos priva de estar? E todos de
alguma forma procurando por uma salvação. Contudo queimando
lentamente, sozinhos. Como um carvão tirado da brasa.
Aonde caminhamos juntos? Quem era você, com quem vivi?
Não sei, apenas sobrevivi. Às trevas dentro da luz. À luta entre
amor e ódio.
De onde vem essa grande besta? Este dragão de fogo que
consome? Como se entranha dentro de nós? Do mundo? Por que nos torna
cegos? De que semente se desenvolveu? De que raiz brotou? Por que
estamos fazendo isso? Quem está no comando afinal? Quem está nos
matando? Nos furtando de vida e de luz. Escondendo-se, dissimulando,
brincando com o que talvez pudéssemos vir a ser. A saber; sobre a
vida, o mundo. Tornando os fatos obscuros. Esta escuridão está
dentro de ti? Você também já teve esse pesadelo? Este caminho que
está tomando, sem rumo.
Como fomos perder a bondade, o amor que nos foi dado
gratuitamente? Como deixamos escapar? Destruindo, sem nenhum
cuidado? Tornando o mundo um lugar sombrio.
Existem
outros mundos? Existem, mas estão neste, como disse Paul Éluard. Já
vi e vivi outros mundos. Vi coisas que a maioria jamais verá.
Todavia não vi tanta destruição. As vezes penso que foi só
imaginação. As vezes penso que sou louco. Não importa, tenho
certeza que sou pouco.
Vivemos num mundo que aparentemente está se
autodestruindo. E tudo que a maioria faz é fechar os olhos e torcer
para que nada os atinja. Quando não muito, disparam suas
metralhadoras cegamente, atingindo indiscriminadamente a quem quer
que seja. Quando não muito, principalmente quem está por perto.
Intimamente por perto. Cada um por si.
O homem está ruindo. Será que a ruína humana
beneficia a Terra de alguma maneira? Será que ajuda a grama a
crescer e o fruto a vicejar? Ajuda que o pássaro voe livre, não
cativo? Como cativos estamos nós; grilhões múltiplos a nos prender
a Terra, nos impedindo de voar. Terra que agora grita, pedindo
socorro pelos homens, não por si mesma. Quem ouve? Não quem
maltrata. Não quem causa danos.
Quem é Deus? Somos todos obras de uma única mente? Os
traços de uma única face? Talvez Deus tenha uma grande alma da qual
todos fazem parte. Todas as faces numa mesma face. Um grande ser, um
único organismo cósmico. Se assim for, penso que não deveria haver
embates. Mas os homens são livres para escolher seus caminhos. E nem
sempre o fazem com sabedoria.
Somos todos levados para o caminho que desejamos
percorrer. Podem ser incrédulos, racionais ou loucos, todos caminham
naquilo que acreditam. Os incrédulos nada querem ver, refutam o
conhecimento que não venha de provas e não aceitam compreender além
do que manda a razão. Os racionais se vêm em tudo, sabem tudo,
compreendem tudo. Mas ambos continuam irracionalmente correndo em
círculos. Os loucos... bem, os loucos por sua vez têm um olhar
além, acreditam no impossível e buscam compreender aquém da razão.
Por isso abrem caminhos, que depois alguns poucos seguem. E depois
outros. Até que um dia deixa de ser loucura. A história da
humanidade está cheia deles. E eles? Os que abriram caminhos?Alguns
poucos são reconhecidos. Poucos tem valor. Os outros? Pagam um preço
muito alto pela ousadia. Assim mostra a humanidade. Assim caminha a
humanidade. Lentamente.
Onde isso vai parar? Se continuamos insistindo no erro?
Se não queremos ver, mudar de atitude? Intolerantes! O homem está
em guerra. Consigo mesmo, com seu semelhante. A guerra enobrece o
homem? Não, ela os torna em bestas. Envenena a alma. Faz ver em cada
gesto um ato belicoso. Em cada palavra um ato de agressão. E
revidam. E tornam a revidar. Até que não sobre mais nada. Até que
não reste pedra sobre pedra; nenhuma possibilidade. Sem
perdedores... sem ganhadores.
Dizem que as coisas pioram antes de melhorar. Imagino
que em algum momento as coisas só podem melhorar. Já é hora dos
homens começarem a melhorar. É o que desejo. É o que vai
acontecer.
Horas que parecem dias. Dias que parecem meses. Nada
pode me fazer esquecer. Quem sou, de onde vim, há que vim, onde
quero chegar. Toda vez se começa do começo. Toda vez é um novo
começo. Só há uma coisa que o homem pode fazer. É alcançar algo
dentro dele mesmo. Alcançar uma nova rota que o livre deste
descaminho. Alcancei uma era dourada. Alcancei novos mares. Um novo
oceano.
Oh, minh'alma, deixe eu estar com você agora. Amor, de
onde vens? O que acende essa chama em nós? Nós. Nós juntos. Um
ser. Um único Ser. Deslizando e se misturando feito ondas, até não
podermos distinguir um do outro. Fogo que nenhum mal pode apagar.
Nenhuma guerra. Eu era cativo. Tu me libertastes...
(R. Moran)
* todos os direitos reservados ©
"Alcancei novos mares. Um novo oceano." O desconhecido atrai, seduz, se traduz em possibilidades do 'vir a ser'. Os questionamentos movem a razão,mas só o Amor abre novas trilhas em meio a um árido sertão.
ResponderExcluirTexto intrigante... Amei!
Beijo grande