Depois do ensaio
Vivo um momento ímpar em minha história. Nunca estive
tão fodido e nunca estive tão imerso em um insight pleno de vida.
Profundo. Misterioso. Profano.
Mas ondas apenas batem e vão? Olho no espelho, e o que
vejo são cúmulos de perdas e achados mágicos. E a dor nunca foi
tão grande por entender. Quais são os limites do homem?
Constantemente a ciência pergunta. Sem nunca ter respostas
concretas, avanços continuam na medida do escoar das horas
universais. Mas pergunto eu diante do espelho: quais são as
limitações do homem? Seus gargalos, onde a luz se estreita, o bico
se afina no funil do tempo... Onde estes passos nos levam? Estamos
cientes dos danos causados ao outro e principalmente ao escuro e
fundo de nossas almas? Perguntas que batem em muros de contenção do
ego e rechaçam em forma de fogo frio, que inundam por nossas bocas,
atravessam com gosto de fel o palato, tergiversam pelo peito em notas
dissonantes e depois se queimam no ácido de nossas palavras
interiores. Sufocados pelo próprio vomito de pura bílis mental.
Desgastados. Incompatibilizados. Desestruturados. Tudo proporcional
ao quanto de cegueira nos impomos, O quanto dizem o que vestir, por
onde andar, onde ir... mas nunca nos pedem para voltar. Ao útero; o
berço no nascimento das vontades. Vontades conflituosas que nos são
colocadas desde o princípio: os conceitos duais; o
claro e o escuro; em cima e embaixo; este é verde, o outro é
amarelo; um é bom, o outro é mal... o prazer e a dor. Mas
ondas batem e depois vão, porém antes depositam algo em nossas
praias. E pode ser um pequeno grão de areia, como concha coral. E
então... um dia percebemos que a desestruturação ajuda a
desconstruir o mundo criado pela vontade dos outros. Que o
desgaste é natural para a rocha, pela ação das tempestades de
vento que sopram e aparam as arestas. Ainda que para isso transcorram
séculos...
E a alegria nunca foi tão grande pelo aparente sofrer – eu
sou um otimista de fato, antes de tudo. E antes que alguém questione
que deveria ter começado pela frase anterior, dizem que a ordem dos
fatores não altera o produto. Assim, não há diferença entre
começar e terminar. Tudo que começa, termina. E quando termina, é
que tudo começa. Verdade. Encantamento. Magia. Os momentos ímpares,
que são únicos, e por isso mesmo não são duais. Um, dois ou
três... frações de um Todo. O quanto é o limite do Todo?
Justamente, não existe um limite. Isso eu já descobri. Falta
apenas você chegar. Ter esperanças e dizer isto todos os
dias... é o que resta para quem semente dorme, e espera em
agonia novo despertar. Por hora, cansei de tentar explicar aos muros.
(R.
Moran)
(Da série: Coisas a dizer... para quem foi e quem vai chegar depois)
* texto escrito domingo, 14/10, à noite. Magicamente, hoje algo inusitado aconteceu. Penso que é hora dele ser publicado.
todos os direitos reservados ©
Moran,
ResponderExcluirDesconheço os limites humanos, mas conheço os limites da dor e com ele convivo todos os dias: ter que recomeçar - sem ter forças ou querer -;
ser guerreira quando se queria ser princesa...;
acreditar que o amanhecer será melhor que essa negra noite que se encerra.
Ainda espero chegar o dia em que sejamos - eu e vc- grandes o bastante para sermos imunes à dor; embora ela seja parte do processo da nossa evolução como ser humano. Sou frágil e pequena e por isso digo: crescer dói.
Queria ser princesa...
Um beijo... fique bem.
Linda amiga, teu entendimento acerca das questões conflituosas do ser humano é fruto de uma vivência rica de vida. És guerreira, mas antes de tudo és mulher, és crédula, és princesa. Tua dor, nossa dor, são preâmbulos de algo muito maior, e que se consubstancia em um crescer pleno de vida. Ainda que queiram dizer o contrário, caminhamos inexoravelmente para um futuro melhor. Um beijo grande...
ResponderExcluir