terça-feira, 15 de novembro de 2011

"POR QUE PARTI, POR QUEM ESPERO..."




  "POR QUE PARTI,

  POR QUEM
                  ESPERO..."

      (Da série: Coisas a dizer- para alguém que está por vir)    





Já fazem alguns dias que me lançei ao mar novamente. Meu Navio almirante, já senhor de dias de sombria dor na calmaria dos ventos, de novas e turbulentas guerras de tempestades, bolina por furioso de espumas. O sal do mundo aos poucos se reúne a minha volta. Aqui estou encerrado neste navio, sob o solitário mar, sob um solitário céu, consciente de minhas agruras. Toda minha expressão de solidão e abandono concentrando-se em torno dos meu olhos de escura intensidade. Escuros como a noite perene que voltou a se abater sobre minh'alma. Retinas que não escondem o pesar de pensar ter encontrado um abrigo seguro, um porto final em que pudesse ancorar dias de solidão, onde pudesse construir um novo lar para abrigar meu inquieto e áspero espírito lunar. Foram dias de brisa, de cálido embalo de rede, matando a sede na saliva de quem me deu mostras de sentimentos, me deu desvarios de poemas e pilares para edificar um imenso querer. Apenas para depois cortar abruptamente as cordas de rede e me jogar ao chão batido, para morder e deixar exangues meus lábios. Para que eu visse ruir a edificação, pois os pilares com que me acreditei sólido eram de barro pegajoso feito de substâncias etéreas.

Enquanto via meu coração ser arrastado, assaltado e espancado; minha mente ser torturada e desprovida de asas para voar; do outro gritava o desconhecido deste inseguro mar a me clamar novamente a singrar. Simplesmente tive que escolher um caminho. Entre ficar morrendo lentamente por inanição do estéril de um corpo ou zarpar encontrando morte abrupta nas ondas incertas mas quem sabe – uma nova terra, um novo e verdadeiro lar – parti. Foi o que fiz naqueles dias e nunca me arrependi da decisão tomada entre as trevas e a esperança daquele trágico momento.

Agora sigo destacado pela imensidão deste oceano distante, onde mesmo na calmaria este mar sussurra e o mundo silencioso a minha volta está cheio de coisas que falam a minha solidão. Por desconhecido que seja, familiaridades na desconhecida rota que agora traço me trazem dolorosas lembranças. Dentro do baú que carrego comigo, pequenos retalhos de vida e objetos dos quais não posso me livrar me trazem de volta a quem quase me destruiu.

Estranho o coração. Ainda que disso sabendo, da dor e da traição psíquica impetrada, algo nele me diz que ainda palpita o amor. Por enquanto...

Mas aos poucos a necessidade de sobrevivência, a luta diária contra os monstros marinhos e a premente urgência de me desvencilhar de atóis e perigosos recifes me impelem mais longe, perto de outro destino, outro porto, outra alma, distante deste amor bandido. Sou almirantado de estrelas, sou pirata de meus próprios sentimentos, sou o azul do dia mar, o negror da noite escura, sou largo e profundo na forma e na intensidade deste oceano de vivências que me carrega em suas ondas e asas. Oscilo entre o júbilo de existir por mais um dia e a dor insana que corroí meus ossos, veias, carnes, pensamentos e minha vontade. E sigo sobrevivente de quem me usurpou o querer mais nobre. Para no amanhã, certo de ancorar novamente, encontrar regalo de colo, lábios que beijem o mais profundo em mim, que matem minha sede d'alma na saliva de uma boca louca de desejos, que sejam todo o amor que possa haver nesta vida. No amanhã...

Por hora sigo navegando neste mar incerto, precisando de um tempo que é só meu. Necessitando de férias de sentimentos. Para limpar meus porões das mágoas, para reestruturar minhas paredes internas destruídas pela intolerância e pela dor, para arejar meu sótão de novas ideias, de verdades e de esperanças. Tudo isso por alguém que ainda está por vir. Alguém que agora possa estar lendo este desabafo em forma de tragédia de um único ato. Alguém que possa ser o depositário das esperanças de um homem ilhado e submergido. Alguém que hoje não tem semblante, face ou voz – é só silêncio. Mas que amanhã sob os bosques de nova terra, sob os rios e pradarias exuberantes deste novo continente, tudo falará ao Eu que reveste minha existência, a um coração que anseia por de novo amar. E neste amanhã, espero por ti.

(R. Moran)                                                                                             NOV/11

  
Participação na 29ª edição sentimento do Projeto Suas Palavras 
Tema: Inspiração

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Um comentário:

  1. Hummmmmm que chegue então, é sempre bom arrumarmos a bagunça deixada de um amor que se foi, antes de deixar outro entrar.

    Beijos querido, meu carinho.

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Para mí, solo recorrer los caminõs que tienén corazón...