"POR QUE PARTI,
POR QUEM
ESPERO..."
(Da série: Coisas a dizer- para alguém que está por vir)
Já fazem
alguns dias que me lançei ao mar novamente. Meu Navio almirante, já
senhor de dias de sombria dor na calmaria dos ventos, de novas e
turbulentas guerras de tempestades, bolina por furioso de espumas. O
sal do mundo aos poucos se reúne a minha volta. Aqui estou encerrado
neste navio, sob o solitário mar, sob um solitário céu, consciente
de minhas agruras. Toda minha expressão de solidão e abandono
concentrando-se em torno dos meu olhos de escura intensidade. Escuros
como a noite perene que voltou a se abater sobre minh'alma. Retinas
que não escondem o pesar de pensar ter encontrado um abrigo seguro, um porto
final em que pudesse ancorar dias de solidão, onde pudesse construir
um novo lar para abrigar meu inquieto e áspero espírito lunar.
Foram dias de brisa, de cálido embalo de rede, matando a sede na
saliva de quem me deu mostras de sentimentos, me deu desvarios de
poemas e pilares para edificar um imenso querer. Apenas para depois
cortar abruptamente as cordas de rede e me jogar ao chão batido,
para morder e deixar exangues meus lábios. Para que eu visse ruir a
edificação, pois os pilares com que me acreditei sólido eram de
barro pegajoso feito de substâncias etéreas.
Enquanto
via meu coração ser arrastado, assaltado e espancado; minha mente
ser torturada e desprovida de asas para voar; do outro gritava o
desconhecido deste inseguro mar a me clamar novamente a singrar.
Simplesmente tive que escolher um caminho. Entre ficar morrendo
lentamente por inanição do estéril de um corpo ou zarpar
encontrando morte abrupta nas ondas incertas mas quem sabe – uma
nova terra, um novo e verdadeiro lar – parti. Foi o que fiz
naqueles dias e nunca me arrependi da decisão tomada entre as trevas
e a esperança daquele trágico momento.
Agora
sigo destacado pela imensidão deste oceano distante, onde mesmo na
calmaria este mar sussurra e o mundo silencioso a minha volta está
cheio de coisas que falam a minha solidão. Por desconhecido que
seja, familiaridades na desconhecida rota que agora traço me trazem
dolorosas lembranças. Dentro do baú que carrego comigo, pequenos
retalhos de vida e objetos dos quais não posso me livrar me trazem
de volta a quem quase me destruiu.
Estranho
o coração. Ainda que disso sabendo, da dor e da traição psíquica
impetrada, algo nele me diz que ainda palpita o amor. Por enquanto...
Mas aos
poucos a necessidade de sobrevivência, a luta diária contra os
monstros marinhos e a premente urgência de me desvencilhar de atóis
e perigosos recifes me impelem mais longe, perto de outro destino,
outro porto, outra alma, distante deste amor bandido. Sou almirantado de estrelas, sou pirata de
meus próprios sentimentos, sou o azul do dia mar, o negror da noite
escura, sou largo e profundo na forma e na intensidade deste oceano
de vivências que me carrega em suas ondas e asas. Oscilo entre o
júbilo de existir por mais um dia e a dor insana que corroí meus
ossos, veias, carnes, pensamentos e minha vontade. E sigo sobrevivente
de quem me usurpou o querer mais nobre. Para no amanhã, certo de
ancorar novamente, encontrar regalo de colo, lábios que beijem o
mais profundo em mim, que matem minha sede d'alma na saliva de uma
boca louca de desejos, que sejam todo o amor que possa haver nesta
vida. No amanhã...
Por hora
sigo navegando neste mar incerto, precisando de um tempo que é só
meu. Necessitando de férias de sentimentos. Para limpar meus porões
das mágoas, para reestruturar minhas paredes internas destruídas
pela intolerância e pela dor, para arejar meu sótão de novas
ideias, de verdades e de esperanças. Tudo isso por alguém que ainda
está por vir. Alguém que agora possa estar lendo este desabafo em
forma de tragédia de um único ato. Alguém que possa ser o
depositário das esperanças de um homem ilhado e submergido. Alguém
que hoje não tem semblante, face ou voz – é só silêncio. Mas
que amanhã sob os bosques de nova terra, sob os rios e pradarias
exuberantes deste novo continente, tudo falará ao Eu que
reveste minha existência, a um coração que anseia por de novo amar. E neste amanhã, espero por ti.
(R. Moran) NOV/11
Participação
na 29ª edição sentimento do Projeto Suas Palavras
Tema: Inspiração
Tema: Inspiração
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Hummmmmm que chegue então, é sempre bom arrumarmos a bagunça deixada de um amor que se foi, antes de deixar outro entrar.
ResponderExcluirBeijos querido, meu carinho.