quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O AMOR É UM VÍCIO

                                                         
                                                         "O Amor é um vício..."


Eu tenho um baú de sonhos encontrados, eu tenho um dia e muitas noites
Eu tenho cintilações de rosa, azul e anil colores
Eu tenho visões de fogo fátuo, alhetas de vento sul
Eu tenho voo noturno em festivos hinos
Eu tenho um circo dentro de mim – Oh, cigarra cantante – a me mostrar sabores
De figueira lampa, de figos turmalinos

Pois que então nenhuma força mundana ou desumana me faça calar
Pois que o teatro do amor tem palco, bastidores, coxias no ar
E as palmas da plateia apenas contemplam o ato encenado
Sem conhecer o humor ensejado no caminho espinho flor
Sem saber das lágrimas contidas na busca rara de ti
Sem ouvir os gritos estrídulos de fulgurante dor

Um que entontece e desaba ao chão
outro que espanta de rasgar d'alma, Solidão.

Solidão num mundo premente de germinações
Solidão à boca de pasmo, engolindo imensidão do maravilhando mar
de horas que não cabem em mim, do muito que tenho desejo de amar
e que me fazem subir lampejos de cristalino esgar, que brotas do peito meu
Posto que oprimido coração não permite navegar
sem que lhe caiba a justa medida do lábio teu

De beijo que soma alheado poema
De outro que estalando, se transforma em fonema

Ah, tenho comigo que já não me basta salvar a fome que canto
Faço-o simplesmente para salvar nossas vidas e o assombro do manto
Que cobre de estrelas noites vazias
Que cobre feéricos gemidos de espanto
De saber salvo o que tens de apreço em mim
Do muito gozo que tenho em ti

A brisa da noite leve canta suada de corpos
entre beijos loucos, aperta o peito e me diz versos roucos
Versos perdidos, versos de comunhão aprazível
Versos que não dizem nada e sejam o todo indizível que somos
Onde já não me importam o nada, já não me importam os críticos
Dissimulados do canto que faço, das linhas que eu mesmo traço

Que falem de amor, palavras e gestos
Que caminhem por olhares e rumos incertos

E se você lê meus versos num papel
E se você acredita em contos de sonhos num abrigo
E se você escuta palavras em minha boca mel
E se você caminhando sentes que estás comigo
E se ainda assim não sabes o que te assoma...
saibas que existe um lado escuro no céu.

Por isso canto, e a nossa canção é tudo
Tem amor eterno fruto proibido
Tem calor e riso desinibido
Tem sussurros loucos de desejo
Tem gemidos rasgados e doce molejo
Mas tem ainda um tolo, um pouco de medo

E se um dia nosso amor cair doente, doente
E se um dia a represa romper de repente
E se num dia você vê desbotar o papel
E se em outro você grita e ninguém parece ouvir
E se minha ausência te faz explodir...
te verei no lado azul do céu.

Muito mais que um vício, meu amor é um caso perdido...


(R. Moran)
Da série: Coisas a dizer - para alguém que está por vir

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7 comentários:

  1. Na sua andança encontrou meu humilde recanto,obrigada pelas palavras que rabiscou gentilmente naquele chão.Prazer imenso tua presença,também gostei andar por aqui,voltarei...até mais.beijos

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  2. Olá. Que amor louco, lindo, eterno. Grande abraço. Boa semana.

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  3. Pena que ele deixou de existir no momento por uma deturpação religiosa... o que não significa que ele não voltará, em outro sorriso, outro corpo, outra alma. Afinal, o escrevi para "alguém que está por vir"... ainda.

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  4. Sem palavras...
    Excelente poema!!!
    Amei!!!

    Bjs

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  5. Bela página!meus sinceros parabéns.abçs

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  6. O Amor é simples e por isso é magico e perfeito!!!
    Obrigada pelo carinho e ja estou aqui te seguindo!!! beijos :)

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  7. Meu amor é um caso perdido... é um Encontro...
    ...de almas, de uma distância falsa, de um tempo que existe, inexiste... Desencontro.
    Loucura... E nada de sanidade.
    Meu amor é um caso... do acaso, do destino, do Caminho... desconhecido, iluminado.
    Dois caminhos. Faces de uma mesma moeda lançada ao ar...
    Reencontro...

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Para mí, solo recorrer los caminõs que tienén corazón...